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Mirins debatem consequências e risco do uso de telas por jovens

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Na manhã da última quarta (12), a Câmara Mirim de Jaraguá do Sul promoveu uma audiência pública com foco no uso prolongado de telas por crianças e adolescentes. No Plenário Victor Bauer, os jovens parlamentares analisaram, com a presença de especialistas, riscos e soluções para a falta de controle e o acesso excessivo a eletrônico por jovens.

A realização da audiência partiu de requerimento de autoria do mirim João Victor dos Santos Machovski (E.M.E.B. Luiz Gonzaga Ayroso), que presidiu os trabalhos.

Machovski apontou os prejuízos causados pela exposição maciça a aparelhos eletrônicos e balanceou a utilidade da tecnologia na vida contemporânea. “A tecnologia está presente em quase tudo, na educação, no lazer, na comunicação. Ela nos oferece oportunidades incríveis, mas também impõe desafios que não podemos ignorar”, frisou, ao listar alguns dos problemas de saúde física e mental atrelados ao hábito. Entre eles, estão o sedentarismo, dores posturais, alterações no sono, ansiedade, irritabilidade e dificuldade na socialização.

A psicóloga Ana Raquel Rodrigues Klippel, supervisora do CAPS-I (Centro de Atenção Psicossocial), usou dados do órgão para apresentar a realidade do cenário atual. “90% das crianças que a gente acompanha hoje têm alguma questão com o uso de telas”, afirmou. A assistente social Juliana Francine Maba Ramos deu respaldo ao dado, frisando a urgência de consequências que podem chegar às salas de psiquiatria. “O que nos preocupa é porque, muitas vezes, a gente está […] iniciando com medicação muitas vezes que nem necessário seria”, afirmou.

Para as especialistas, o tempo de limite diário recomendado para jovens é de duas horas por dia, e que o uso antes dos 12 anos não é recomendado. Se autorizado, ele deve ser mediado por um adulto. Klippel também explicou a relação entre uso excessivo de eletrônicos e transtornos mentais. “O uso excessivo não gera em si mesmo um sintoma de ansiedade ou de depressão. Ele pode piorar um quadro que já estava instalado”, constatou.

Já a professora Fernanda Cardoso Mariano, da E.M.E.B. Frei Aurélio Stulzer, disse que a proibição dos telefones nos ambientes escolares é útil, mas pode não ser suficiente. “Nós precisamos fazer esses espaços de conversas e tanto na escola como na família”, afirmou. Ela também expressou preocupação pela perda de hábitos antigos. “Tem criança que não sabia mais o que era amarelinha, não sabe mais o que é pular corda, jogar coisas de pedrinhas, brincadeiras que a gente fazia”, listou.

O projeto “Sai da Tela”, desenvolvido na E.M.E.B. Frei Aurélio Stulzer por Fernanda, busca conscientizar estudantes e pais com diversas abordagens para reconhecer os benefícios e prejuízos da tecnologia na vida dos jovens.

A psicóloga Gabriela Inthurn, coordenadora do curso de psicologia da Faculdade Metropolitana de Guaramirim (FAMEG), reforçou a importância da infância e da adolescência no desenvolvimento cognitivo e psicológico. “Hoje as redes sociais interferem, seja positivamente ou negativamente, para o autoconhecimento, para o conceito de si mesmo, para a questão de autocobrança”, sublinhou. Ela defendeu que não haja um acesso a eletrônicos proibido, mas monitorado e de qualidade.

Mirins tiram dúvidas com especialistas

Entre os questionamentos levantados pelos mirins, esteve o de Julia Lemes Terres (E.E.B. Roland Harold Dornbusch), que perguntou sobre o incentivo de empresas de tecnologia para o uso prolongado de eletrônicos. “As redes são projetadas e pensadas para manter o dedo rolando”, garantiu Klippel.

Já a mirim Aleksandra Ribeiro de Oliveira (E.M.E.B. Helmuth Guilherme Duwe) perguntou sobre o funcionamento dessa dinâmica com pessoas com transtorno do espectro autista (TEA). Klippel ressaltou que as telas são aliadas como práticas terapêuticas para indivíduos com TEA. “No público TEA a gente vai ter uma diferença, na verdade, na forma com que a gente entende o uso da tela”, explicou.

As especialistas ressaltaram a importância de alternativas de atividades fora da tela, para que a limitação e a redução de uso não esbarrem no tédio.

Durante os questionamentos, Ramos também enfatizou a alta de casos de alunos que não querem ir à escola e que mostram sinais de isolamento, frequentemente, com aparelhos eletrônicos. “Outro prejuízo que a gente vem vendo, de dois anos para cá, é a questão da do afastamento escolar. O que é preocupante, porque, inclusive a educação é um direito que está no ECA, no Estatuto da Criança e da Adolescente”, destacou.

Murilo Correa de Freitas (Escola Sesi) perguntou se os impactos da dependência em celulares e outros dispositivos é o mesmo em crianças e adultos. “A sementinha de um comportamento ruim é muito mais difícil da gente mediar para diante. Então, se a gente é uma criança, um adolescente que cresceu exposto à tela, a gente tem prejuízos na vida adulta muito piores”, explicou Klippel.

A expectativa é que, com os debates, os mirins possam propor documentos e analisar demandas para a construção de políticas públicas que incrementem a qualidade de vida e o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes em Jaraguá do Sul.

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