Uma reunião nesta manhã, 15, no plenário da Câmara, tratou das ações visando o resgate da memória da explosão da fábrica de pólvora, que completa 60 anos no dia 6 de novembro deste ano. Uma comissão de moradores foi montada com dois objetivos principais: a construção de um monumento em memória às vítimas e a produção de um documentário. Articulada pelo vereador Pedro Garcia, a reunião contou com a presença de funcionários do Arquivo Histórico Municipal, do presidente da Fundação Cultural, Leone Silva, representando o prefeito Dieter Janssen, do gabinete do vice-prefeito Jaime Negherbon e do deputado Carlos Chiodini, do industrial Werner Voigt, testemunha ocular da tragédia, entre outras pessoas de alguma forma interessadas no tema, os integrantes da comissão, além da imprensa.
Conforme informou o vereador Pedro Garcia, esta foi a maior tragédia registrada em Jaraguá do Sul, resultando na morte de dez pessoas, a maioria jovens entre 18 e 30 anos. Uma história triste, mas que segundo o vereador, desperta a atenção de muitas pessoas. Uma música foi feita em homenagem aos mortos pelo então servidor público Atayde Machado, que tinha um programa de rádio chamado “O Rancho do Dadi”. O filho de Dadi, Laércio Machado, integra a comissão e estava presente a reunião. Ele destacou a importância do resgate histórico, pois avalia que o acontecimento estava esquecido na memória da cidade. Laércio conta que se mudou ainda menino para a Rua João Doubrawa, então conhecida com Tifa da Pólvora, e vivenciou a tragédia de perto. “Meu pai ajudou na remoção dos corpos e também na autoria da música”, contou.
O historiador Ademir Pfiffer relatou que a empresa tinha posição de destaque – era a terceira no Brasil na produção dos artefatos – e que a tragédia repercutiu não só no município, mas em toda a região. À época, a Rádio Jaraguá, a única da cidade, chegou a sair do ar por causa do ocorrido. “As pessoas que estão vivas e foram testemunhas oculares têm uma fração para contar, e é importante registrar, pois assim teremos a possibilidade de relatar para as outras gerações”, afirmou.
A historiadora Silvia Kita informou os documentos e matérias do jornal da época – O Correio do Povo – que estão disponíveis para pesquisa no Arquivo Histórico. “E temos também o inquérito policial, que está na documentação do Judiciário. Podemos retirar os dados essenciais para colocar neste trabalho”, comentou, solicitando a quem eventualmente tenha algum documento ou foto que o leve ao arquivo para digitalização. Ator da Cia de Teatro Colher de Pau, da Scar, Tiago de Oliveira informou que também está fazendo uma pesquisa sobre a Tifa da Pólvora, pois mora lá. Também contou que uma peça de teatro resgatará a tragédia, com estreia prevista para o dia do acontecido. “Como companhia pesquisadora de teatro da Scar, queremos nos aproximar ao máximo de vocês, para resgatar esta história que é importante também para a cultura de Jaraguá do Sul”, comentou.
História da empresa
A fábrica de pólvora foi instalada pelos imigrantes alemães Fritz e Henrique Rappe em Jaraguá do Sul no ano de 1912. O local onde a empresa se localizava passou a ser conhecido como Tifa Rappe. Durante a Primeira Guerra Mundial a fábrica foi ocupada pelo 13º Batalhão de Caçadores e passou a servir aos propósitos do Exército. Durante a ocupação ocorreu a primeira explosão que não deixou feridos, mas destruiu parte da estrutura do local. Após a mudança dos primeiros proprietários para a cidade de Curitiba, em 1918, o que restou do incidente foi adquirido por Augusto Mielke. O novo dono transferiu a fábrica para a Rua João Doubrawa. Mais tarde, em 1926, a empresa foi novamente vendida, tornando-se propriedade de Reinoldo Rau, que no ano de 1939 vendeu a empresa para um grande fabricante de pólvora com sede no Estado de Pernambuco. A S/A Pernambuco Powder Factory fabricava pólvora, explosivos de segurança e estopins com a marca “Elephante” e sua filial na cidade chegou a produzir diariamente, na década de 50, cerca de 100 quilos de pólvora. No dia 8 de setembro de 1941, outro incidente ocorreu, mas não deixou feridos. A terceira e mais grave explosão aconteceu em 6 de novembro de 1953, abalando estruturas de casas na proximidade, deixando 4 feridos e vitimando 10 pessoas que trabalhavam no local.