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HISTÓRIA OFICIAL É REVISTA COM INCLUSÃO DA CULTURA AFRO NO CURRÍCULO

[b]Chefe de gabinete da Secretaria Especial da Igualdade Racial, Sandra Cabral, visita Câmara junto com o consultor do PNUD, João Carlos Nogueira Eles também visitaram a Secretaria de Educação e observaram que no município os professores estão sendo orientados para o cumprimento de lei federal de inclusão Na foto, os visitantes com equipe da secretaria, do Moconevi e vereadores [/b]

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A chefe de gabinete da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), professora Sandra Rodrigues Cabral, e o sociólogo e consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), João Carlos Nogueira, ficaram agradavelmente surpresos ao constatar que em Jaraguá do Sul há grande disponibilidade tanto da Câmara de Vereadores como a Secretaria de Educação do município em desenvolver práticas em prol da inclusão racial.
Ao tomar conhecimento da força do movimento negro na cidade, representado pelo Movimento de Consciência Negra do Vale do Itapocu (Moconevi), Sandra e Nogueira, em cumprimento de agenda na região Norte do Estado, fizeram questão de visitar a Câmara na manhã desta segunda-feira (26 de outubro). Foram recebidos pelos vereadores da bancada do Partido dos Trabalhadores, Francisco Valdecir Alves e Justino Pereira da Luz. E tomaram conhecimento de que o vereador Francisco vai entrar para a história do município como o primeiro cidadão negro a assumir vaga no Legislativo jaraguaense.
Sandra destaca que um de seus maiores desafios no ministério é percorrer os municípios brasileiros para estimular a promoção da igualdade racial e a aplicação da lei federal nº 10.639/2003, que torna obrigatória a inclusão de história e cultura afro-brasileira nos currículos escolares. E, mais recentemente, a lei nº 11.645, de 10 de março de 2008, que obriga a inclusão no currículo oficial da temática história e cultura afro-brasileira e indígena.
Ela disse que há um esforço concentrado para que depois de seis anos de aprovada a primeira lei seja fechado o plano nacional de implantação e efetivamente se dê visibilidade à história renegada do povo negro. O plano deve ser validado por decreto pelo presidente Lula. Para isso, há a preocupação em cumprir os prazos e metas e “driblar os racistas de plantão”.
A lei, que praticamente revê a História oficial brasileira ao propor que ela passe a ser contada com muito mais profundidade, acabou gerando um grande movimento nas academias e escolas, tanto no sentido de discutirem a necessidade de formação de professores quanto na produção de materiais didáticos, para que a importância da participação do negro seja inserida na História do Brasil, contribuindo para uma educação voltada para a diversidade e de combate a discriminações.
A professora Scheila Ribeiro lamenta que em seu curso de história não seja contemplada esta disciplina e considera difícil para os educadores repassarem conteúdos que eles mesmos não o receberam. Ela disse que os conhecimentos que transmite para seus alunos, como sobre o poeta catarinense Cruz e Souza, por exemplo, são iniciativa pessoal sua, como educadora, por meio de pesquisas. Ela citou ainda como exemplo que edital de concurso público para o Estado não cita a história da África.
Sandra reconhece esta dificuldade, mas diz que tanto o ministro Edson Santos, da Igualdade Racial, como o ministro da Educação, Fernando Haddad, estão bastante entusiasmados com as mudanças no currículo escolar. E o MEC se comprometeu em andar mais rápido na confecção de material didático para enviar às escolas.

[b]EM BUSCA DA ADESÃO DOS SECRETÁRIOS MUNICIPAIS[/b]

A SEPPIR tem como meta que o dia 20 de novembro, incluído no calendário escolar pela mesma lei como o Dia Nacional da Consciência Negra, se torne neste ano um marco no avanço da lei. Sandra disse que tem conhecimento das dificuldades em mobilizar e orientar toda a categoria de trabalhadores na educação em todos os níveis em um País de dimensões continentais como o nosso, mas determinação para isso não falta. Por isso, a importância de contatar os secretários municipais de Educação para que eles comecem a sensibilizar suas equipes.
“O Estado tem que ser o grande protagonista. O Ministério da Educação sabe de sua missão em indicar literatura a respeito para que possamos contar a história verdadeira e quebrar o círculo vicioso”, defendeu a professora. Ela informou ainda que há uma comissão pesquisando publicações que contem a história da raça e possam resgatar a auto-estima das crianças negras.
“Que elas deixem o temor de serem chamadas de macaco, que tem o cabelo ruim ou feio”, defendeu Sandra. Uma das representantes do Moconevi contou o caso recente de que uma professora de sua neta contestou quando a menina disse que era negra. “Fui até a escola explicar que apesar de a menina ter pele clara e pai branco, ela tem toda uma família negra sim e se orgulha dela”, contou.
Sandra ficou emocionada com a história, por entender que é desta forma, pelo diálogo, que os professores serão preparados e esclarecidos para mudarem sua didática. “Hoje, a inclusão é uma obrigação das escolas, e não um desejo pessoal do educador”, reflete. Ela mesma, apesar da pele clara, diz que inúmeras vezes têm que reafirmar sua negritude, que para ela se expõe por meio do cabelo cacheado e do pai negro. “Ser negro não é questão de cor de pele”, entende.
Acompanhados pelo assessor político da senadora Ideli Salvatti, o ex-deputado estadual Dionei Walter da Silva, vereadores e representantes do Moconevi, Sandra e Nogueira também se reuniram com o secretário de Educação, Sílvio Celeste Bard, e foram informados de que a inclusão de conteúdo está sendo discutida e levada a sério no município. Tanto que a diretora da ensino fundamental da secretaria, Sirley Schappo, informou que foi contratada uma pessoa especialmente para fazer esta integração.
A articuladora das relações étnico-raciais, a professora de história Andréia Silveira Camillo, que assumiu a função em abril deste ano, entregou um relatório das atividades desenvolvidas até o momento. Recentemente, a secretaria trouxe para um trabalho com representantes das escolas, a professora Jeruse Maria Romão, autora do livro “Africanidade Catarinense”, que trata sobre a história e cultura afro-brasileira, que traz também referências a Manoel Rosa, o conhecido mestre Manequinha, que estimulou por anos o folclore do boi-de-mamão e virou sinônimo de Carnaval em Jaraguá do Sul pela garra com que defendeu sua escola de samba Estrela Dalva até a morte, há cerca de dois anos.
Durante o mês de agosto, 30 professores e orientadores do município participaram em Araquari do curso de formação sobre “História e cultura africana e afro-brasileira”, para subsidiar o trabalho dos professores em sala de aula. A participação teve parceria das APPs, que custearam o valor do curso para os seus representantes. A Prefeitura entrou com o transporte. “Temos 32 escolas e fizemos questão de levar um representante de cada uma, para que eles atuem como multiplicadores”, explicou a professora.
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PRIMEIROS MUNICÍPIOS A ADERIREM TERÃO RECURSOS LIBERADOS[/b]

Andréia Camillo conta que os professores já trabalham o tema nas escolas e no mês de setembro realizaram oficinas sobre a história africana e indígena. “Temos o apoio total do secretário Sílvio Celeste, que determinou que fizéssemos a capacitação dos professores para que possam lidar com as questões relacionadas à diversidade étnico-raciais, atendendo aos mandamentos da legislação federal”, garantiu.
De Sandra, eles receberam a garantia de que os municípios que aderirem ao fórum nacional serão os primeiros a terem seus projetos financeiros liberados. “Haverá verbas, é só fazer projetos”, reiterou. No hall da secretaria, o grupo ainda posou para uma foto junto à exposição de trabalhos dos alunos da Escola Adelino Francener, localizada no Morro do Boa Vista, onde teriam se concentrado os primeiros negros colonizadores de Jaraguá do Sul.
Dionei sugeriu ao Moconevi que estimule através de projetos culturais o desenvolvimento de pesquisas e literatura sobre a história jaraguaense, de forma a resgatarem a presença negra. “Todos cultuam o explorador Emílio Carlos Jourdan como o fundador da cidade, mas há poucos registros dos 60 negros que vieram com ele povoar a região e são os verdadeiros construtores desta cidade”.
Ele também recordou que quando o Moconevi começou a ser articulado na cidade, onde a colonização alemã sempre foi colocada em primeiro plano, todos consideravam que era uma atitude visionária. Hoje, o Moconevi tem seu espaço na sociedade e foi incluído na tradicional Festa das Etnias.
O vereador Francisco Alves considerou a visita um momento decisivo e que deve trazer muitos subsídios para a Semana da Consciência Negra que será organizada em novembro. O vereador Justino também considerou o encontro valioso. “É o governo federal participativo, estendendo sua política de inclusão a todas as esferas governamentais, sem ver a cor partidária. Apenas a cor da cultura”.

Jornalista responsável: Rosana Ritta – Registro profissional: SC 491/JP