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CONTROLE DE MARUIM AINDA DEPENDE DE MUITA PESQUISA

[b]Biólogo tenta criar inseto em laboratório para descobrir sua cadeia alimentar[/b]

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[img align=left]https://www.jaraguadosul.sc.leg.br/uploads/thumbs/c8663d22-3864-45a0.jpg[/img]

Criar o maruim em laboratório, para descobrir seu predador na cadeia alimentar e aí desenvolver um produto para efetuar o controle desta praga que provoca alergia com coceira intensa, dores, infecções de pele e até mesmo problemas de circulação, e que deixou de ser exclusiva das áreas rurais para infernizar também a população das áreas urbanas. Este é o maior desafio do biólogo Luiz Américo de Souza, que vem realizando estudo na tentativa de descobrir uma forma de diminuir a incidência do inseto na região. Por enquanto, ele antecipa que não há remédio nem repelente específico para combatê-lo.
O biólogo, funcionário da Fundação Municipal 25 de Julho, de Joinville, esteve na sessão da Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul de quinta-feira (24 de setembro), quando explicou o projeto que vem desenvolvendo em parceria com a Associação dos Municípios do Vale do Itapocu (Amvali) e o Instituto Grade de Ciências Básicas (IGCB), de Schroeder. O convite partiu do vereador Jaime Negherbon (PMDB), que demonstrou preocupação com a situação verificada nas comunidades rurais, em especial com os bananicultores.
Luiz Américo recordou que o projeto de controle do maruim é um desejo da Amvali há alguns anos. Ele decidiu se envolver no mesmo em 2006, quando assistiu a uma palestra de cientista do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro, e observou que o trabalho desenvolvido por esta entidade não era exatamente o que os municípios precisavam. A Fiocruz ficou cinco anos procurando identificar as espécies (aqui na região a mais comum é a Culicoides paraensis, mas o maruim existe no mundo todo), o que, segundo ele declarou, teria feito em um ano. E o foco do estudo, que deveria ser justamente no controle, não foi dado.
Então, o biólogo foi convidado pela Amvali para buscar este controle. Para resolver o problema inicial de infra-estrutura, o prefeito de Schroeder, Felipe Voigt, buscou o Instituto Grade para patrocinar um laboratório. Desde então, Luiz Américo diz que vem driblando as dificuldades climáticas e buscando recursos para o desenvolvimento de seu trabalho. Ele dedica as quintas-feiras para o trabalho no laboratório em Schroeder.
O Instituto Grade se uniu à Amvali para ter um laboratório de ponta, e em maio foi feito acordo de R$ 80 mil para compra de equipamentos, dos quais até o momento foram liberados R$ 28 mil por parte dos municípios de Massaranduba, Corupá, Schroeder e Guaramirim. Américo, que compareceu na Câmara acompanhado pelo diretor executivo do Instituto Grade, Carlos Fernandes, e pela diretora de Pesquisa e Desenvolvimento, Beatriz Luci Fernandes, disse que o trabalho é lento, exige muitas pesquisas de campo tanto na região como em Joinville, mas está funcionando.
Destacou o trabalho administrativo de Carlos no levantamento de orçamentos para compra de materiais com menor preço e a melhor qualidade possíveis para executar seu objetivo de criar o maruim em laboratório. E argumenta que depois da descoberta da cadeia alimentar do inseto será muito mais fácil se chegar a um produto de combate, a exemplo da descoberta do BTI para combater o borrachudo.

[b]O INCÔMODO QUE INVADIU A ÁREA URBANA[/b]

“Enquanto estava picando somente os agricultores e as crianças das escolas rurais tudo bem, mas a preocupação aumentou quando a praga começou a chegar na área urbana, aí o pessoal começou a se mexer”, constatou o biólogo, que garantiu que está se empenhando o máximo possível para aumentar a demanda de técnicos para conseguir o quanto antes o resultado que almeja. Por enquanto, ele só tem o auxílio de uma estagiária.
Luiz Américo tentou eliminar o mito de que o maruim tenha forte correlação com a produção de banana, embora estudo feito em 2006 na região tenha concluído que o cepo de bananeira em decomposição se mostrou o principal criadouro de C. paraensis na área em estudo, enquanto que o pseudocaule, o esterco de galinha, a beira de riacho e o chão do bananal não se mostraram bons criadouros.
Ele disse que tem observado que a praga se alastra igualmente no esterco de galinha e de porco, nas hortas em que o esterco é utilizado como adubo e mesmo nos gramados de jardins. Enfim, se o ambiente tiver umidade e temperatura de em média 28 graus centígrados, a proliferação é maior ainda. “Portanto, nem dá pra culpar o bananal por isso”, destacou, comparando que há 30 anos Joinville era um grande produtor de bananas e não há notícia ou documento que o maruim aterrorizava os produtores. Assim, como na região, o alastramento se tornou mais intenso nos últimos dez anos.
Esta constatação foi feita diante de questionamentos dos vereadores Jaime e Vilmar Delagnolo (PT), curiosos para saber então a que se deve o aumento da praga. Delagnolo chegou a questionar se ela teria relação com a redução de outra praga, a do borrachudo. O biólogo descartou esta possibilidade, informando que o borrachudo não pertence à cadeia alimentar do maruim.
A proliferação, segundo ele, está ligada à oferta de alimento encontrada na matéria orgânica em decomposição, onde é feita a postura dos ovos. E à proximidade do homem, mamíferos ou mesmo aves, de quem as fêmeas buscam o sangue. Porém, o vereador Jaime diz que nota que onde tem banana é onde o maruim mais se cria. Américo exemplificou que no plantio de pupunha também tem e em Joinville também, onde hoje tem poucos bananais. Ele acredita que o que aconteceu tenha sido o desmatamento e mudança de culturas agrícolas.

[b]RISCOS DE DOENÇAS E VIROSES[/b]

Segundo o biólogo, as alergias e dermatoses ocorridas na região, embora beirem o insuportável, são pequenas em relação a casos mais graves de doenças que provocam viroses de difícil controle. Dos casos mais graves registrados na região, ele cita as mortes de dois cervídeos do zoológico de Pomerode, vítimas de doença que nos animais se chama “doença da língua azul”. Ele disse que instalou três armadilhas naquele local, para verificar a incidência. Estes animais teriam sido contaminados por cabras que moram nas imediações do zoológico. “Se tiver ali, perto de nós, vai ser complicado”, destacou.
A chamada urbanização da praga foi enfatizada pelo presidente da Câmara, Jean Leutprecht (PC do B), que perguntou se há relação com a proximidade de cursos de água. Luiz Américo explicou que o maruim, ao contrário do borrachudo, não se reproduz na água, mas nas margens, onde há umidade. Cada fêmea coloca 200 ovos, que eclodem em 15 dias – já foi constatado que algumas larvas ficam até dois anos em latência, esperando o ambiente propício para eclodir – e têm vida de 30 a 45 dias, vivida num raio de no máximo um quilômetro. ”Temos sorte é que só as fêmeas saem atrás do sangue, se fossem os machos também aí seria mais complicado”, observa.
Diante da pergunta de Jean se há algum veneno para exterminar a praga, a resposta é negativa. Os estudos no mundo todo são raríssimos. Existem apenas duas possibilidades. Uma seria uma informação do prefeito de Corupá, Luiz Carlos Tamanini, de que em Cuba teria sido descoberta uma forma de combate. Mas esta informação ainda precisa ser confirmada. E outra desenvolvida por uma cientista em Buenos Aires, que está criando o maruim em laboratório, o que Américo ainda não conseguiu.
“Aguardo ansioso por esta informação, pois se um cubano já tem o controle, não tem porque estarmos fazendo pesquisa. É mais barato irmos até lá buscarmos a fórmula do que investirmos anos a fio em pesquisa. O negócio é resolver o problema”, observou o estudioso. Ele prometeu abrir um champanhe com os vereadores quando for descoberta a solução. O presidente Jean disse que também vai conversar com o prefeito Tamanini para que se busque a informação junto à Embaixada de Cuba.
O biólogo se colocou à disposição para atender quem quiser conhecer seu trabalho no Instituto Grade, onde ele presta expediente todas as quintas-feiras. Informações: 3374-2073.

Jornalista responsável: Rosana Ritta – Registro profissional: SC 491/JP